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Construção de ponte provisória no Rio Curuçá segue sem previsão treze dias após desabamento na BR-319


Treze dias após após o desabamento da ponte sobre o Rio Curuçá, na BR-319, o Departamento Nacional de Trânsito (Dnit) segue sem dar previsão de quando uma ponte provisória será construída no local. O acidente ocorreu no quilômetro 23 da rodovia, localizado no município de Careiro, no interior do Amazonas.

Na ocasião, quatro pessoas morreram e 14 ficaram feridas. Dez carros foram retirados do rio, e os bombeiros seguem procurando por uma pessoa que ainda está desaparecida.

Desde o acidente, motoristas e moradores que utilizam a rodovia e aguardavam o restabelecimento do tráfego de veículos na região assistiram outro desabamento anunciado: a queda da ponte sobre o Rio Autaz Mirim, a dois quilômetros de onde ocorreu o primeiro acidente, no último sábado (8).

Entretanto, uma equipe da Rede Amazônica percorreu os dois pontos onde ocorreram o desabamento, nesta segunda-feira (10). No local do primeiro acidente, maquinários realizam trabalho de compactação do solo, mas nenhum órgão confirmou se a obra é voltada para a construção de uma ponte provisória.

No dia 30 de setembro, dois dias depois da primeira ponte cair, o governo estadual informou que uma estrutura metálica provisória seria construída no local em menos de duas semanas para o tráfego de veículos. O serviço ficaria a cargo do Exército Brasileiro (EB), sob a coordenação do Dnit.

Questionados pelo g1, tanto o Dnit quanto o Exército não confirmaram se e quando a estrutura será construída.

Em nota enviada na segunda-feira (10), a dois dias do fim do prazo inicial previsto para a construção da ponte metálica, o Dnit se limitou a dizer que “está trabalhando administrativamente e também nos projetos para poder decretar situação de emergência e reconstruir as pontes”, sem dar detalhes sobre estruturas provisórias.

Atualmente, quatro embarcações da Defesa Civil estão realizando o transporte de passageiros tanto na área da ponte do Rio Curuçá, quanto na área do rio Autaz Mirim.

O Exército também não informou nenhum novo cronograma para a conclusão da ponte metálica.

Caminhoneiros enfrentam rotas alternativas

O desabamento das duas pontes tem forçado caminhoneiros a buscarem rotas fluviais mais caras e distantes para escoar mercadorias.

Antes da queda das duas estruturas, os motoristas que saíam de Manaus precisavam viajar em uma balsa que sai de um porto da Ceasa, na capital amazonense, com destino a um distrito localizado no município de Careiro da Várzea (a poucos quilômetros de Manaus em linha em reta). A viagem dura em torno de 40 minutos.

Agora, com os desabamentos das estruturas, os motoristas se veem obrigados a enviar os caminhões a municípios como Manaquiri e Autazes, em viagens que chegam a durar 8 horas. Nesses locais, é possível se reconectar à BR-319 após o trecho atingido pelas pontes em ruínas.

No entanto, além do maior tempo de viagem, os caminhoneiros também sentem no bolso o desafio de enfrentar as rotas alternativas.

“Dono de balsas estão cobrando R$ 2,5 mil para atravessar um ônibus desse. Os caminhoneiros estão pagando R$5.000 a carreta para atravessar”, afirmou o motorista Carlos Colares que utilizou uma balsa para enviar o veículo para Manaquiri.

A severa descida dos rios amazônicos também pode se tornar um entrave extra no desafio a ser enfrentado nas rotas alternativas. Isso porque a baixa do nível da água do Rio Solimões, por exemplo, tem dificultado a viagem de balsas para Manaquiri.

Desabastecimento em três municípios

O governado Wilson Lima decretou nesta segunda-feira (10) situação de emergência nos três municípios diretamente atingidos pela queda das pontes: Careiro da Várzea, Autazes e Careiro.

De acordo com o governo estadual, há desabastecimento de alimento, remédio e combustíveis. Também há risco das cidades ficarem sem energia elétrica. Cerca de 100 mil pessoas estão sendo afetadas após os acidentes.

“Temos ali a questão do escoamento da produção, desabastecimento de alimento, de remédio, de combustíveis. É importante a questão do combustível, porque esse combustível é que faz funcionar as térmicas. Então, há um risco de que em algum momento isso aconteça, e a gente espera que isso não aconteça, de que alguns desses municípios possam ficar sem energia elétrica”, afirmou Wilson Lima.

Abastecimento de municípios fica comprometido no interior do AM após queda de ponte

Histórico

Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao restante do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu asfaltá-la.

Passado mais de três anos e meio desde que Bolsonaro assumiu o cargo, a promessa de asfaltamento da BR-319 ainda não saiu do papel.

Questionado logo após a queda da ponte sobre o Rio Curuçá, o Ministério da Infraestrutura disse ao g1 que a declaração feita em 2019 por Bolsonaro “refere-se ao asfaltamento do lote C da BR-319/AM, que fica a aproximadamente 200 quilômetros do local do incidente [ponte sobre o Rio Curuçá]”, embora o presidente e a pasta não tenham deixado isso claro à época.

“O trecho de 405 quilômetros conhecido como “trecho do meião” recebeu em 28 de julho a licença prévia ambiental para as obras de reconstrução e pavimentação. Emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o documento aprova os estudos e viabilidade ambiental das obras. O próximo passo é a licença de instalação, que permitirá a contratação da obra, de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e projetos aprovados pelo Ibama”, diz o restante da nota.

Inaugurada em 1976, a BR-319 é conhecida pelos diferentes problemas enfrentados ao longo dos anos. Trafegar pela estrada que liga a capital do Amazonas às outras regiões do Brasil é sempre um desafio para os motoristas.

Grande parte da rodovia segue imprópria para o trânsito de veículos em meio a impasses ambientais e burocráticos. São cerca de 800 quilômetros que separam Manaus de Porto Velho (RO), uma distância que poderia ser percorrida em 12 horas de carro. A recuperação da área está estimada em R$ 1,4 bilhão.

A rodovia possui diversos trechos danificados e não tem pavimentação em quase toda a sua extensão, o que provoca atoleiros “gigantes” no período chuvoso. Já no período de estiagem, os motoristas reclamam de outros problemas: buracos e poeira. Em alguns casos, crateras se abrem em trechos.

Na parte de Manaus, a rodovia já é um desafio logo no início, já que ela começa dentro do Rio Amazonas, numa área próximo ao bairro Distrito Industrial e ao famoso Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões.

Para partir do Amazonas em direção a Rondônia pela BR-319, pedestres e moradores se deslocam até um porto chamado “Ceasa”. Desse porto, pedestres entram em embarcações – barcos, lanchas e balsas – e motoristas, incluindo caminhoneiros, embarcam em balsas. É que todos os usuários da estrada precisam atravessar o rio para chegar à faixa de terra do outro lado, onde fica a área da ponte sobre o Rio Curuçá, a primeira que caiu. O trajeto dura, em média, 45 minutos.

*G1

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