O trecho do Rio Autaz Mirim, onde uma ponte desabou na BR-319, será soterrado para que o tráfego de veículos seja restabelecido na rodovia, segundo informou o govenador Wilson Lima, na segunda-feira (10). Especialista ouvido pelo g1 alerta para os riscos ambientais que podem ser ocasionados pelas obras.
Única ligação terrestre de Manaus com outras regiões do país, a BR-319 teve duas pontes danificadas em um intervalo de 10 dias. Antes da ponte sobre o Rio Autaz Mirim despencar, no último sábado (8), a ponte sobre o Rio Curuçá já havia desabado no fim de setembro. Nesse último trecho, o governo estadual informou que balsas serão utilizadas para a passagem de veículos.
Coordenado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Dnit), as obras de soterramento no trecho do Rio Autaz Mirim direciona o período de seca, com baixo nível da água, para retomar provisoriamente o trânsito de veículos. A barragem que será construída de uma margem à outra com seixos, britas e outras pedras.
A estrutura temporária será instalada ao lado da antiga ponte que desabou e tem prazo de validade curto: até o início da cheia dos rios, cujo processo se inicia no fim do ano, no período do inverno amazônico.
O ambientalista Carlos Durigan alerta que mesmo se tratando de uma obra emergencial é necessário que o projeto seja avaliado e aprovado por órgãos licenciadores, levando em consideração os potenciais impactos e as medidas adequadas para minimizá-los e evitar novos acidentes no local.
“Além dos impactos eventuais, é importante ter em mente que um aterro sobre o leito de um rio, que em breve deve voltar a encher com as chuvas que virão mais fortes nos próximos meses, é bem preocupante se tratando de BR-319, em que boa parte da estrada é construída sobre aterros e em vários locais há deslizamentos e rupturas frequentes”, afirmou
Mesmo que atualmente esteja em pleno período do verão amazônico, caraterizado pelo baixo volume de chuva, o ambientalista lembra que o tempo na Amazônia é imprevisível e que uma forte enxurrada poderia ocasionar em problemas na estrutura provisória.
“Um aterro sempre gera represamento do fluxo das águas do rio, por isso é preciso ter cautela até para garantir a segurança de trafegabilidade sobre o mesmo, pois assim que houver qualquer alteração do volume das águas, em caso de aumento repentino de chuvas, isso ainda pode acarretar ainda mais prejuízos”, concluiu Durigan.
O g1 solicitou detalhes do Dnit sobre o plano de soterramento na região, mas ainda não obteve retorno. O g1 também questionou o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) se as obras foram aprovadas pelo órgão e aguarda retorno.
Ponte de ferro descartada
No local onde a primeira ponte da rodovia desabou, o Dnit descartou o plano inicial de instalar uma ponte metálica provisória sobre o Rio Curuçá.
Na quinta-feira (6), dois dias antes da segunda ponte desabar, o Dnit havia confirmado, por meio de nota ao g1, que estava “trabalhando na conclusão dos acessos nas margens do rio Curuçá para receber a estrutura da ponte. Logo após, será iniciada a montagem da estrutura metálica em parceria com o Exército Brasileiro”,
Passadas duas semanas, o trecho do Rio Curuçá segue bloqueado para o tráfego de veículos e pessoas. O problema na rodovia federal ser agravou com a queda da segunda ponte.
Agora, o Governo do Amazonas o trecho deve receber balsas para a travessia dos veículos.
“As balsas vão chegar pelo Careiro da Várzea. Serão embarcadas em veículos. De lá, elas serão transportadas até a ponte do Curuçá. Elas vão ser colocadas no rio para permitir a passagem dos veículos”, disse Wilson Lima, após a reunião com o ministro dos transportes, na segunda-feira (11).
Caminhoneiros enfrentam rotas alternativas
O desabamento das duas pontes tem forçado caminhoneiros a buscarem rotas fluviais mais caras e distantes para escoar mercadorias.
Antes da queda das duas estruturas, os motoristas que saíam de Manaus precisavam viajar em uma balsa que sai de um porto da Ceasa, na capital amazonense, com destino a um distrito localizado no município de Careiro da Várzea (a poucos quilômetros de Manaus em linha em reta). A viagem dura em torno de 40 minutos.
Agora, com os desabamentos das estruturas, os motoristas se veem obrigados a enviar os caminhões a municípios como Manaquiri e Autazes, em viagens que chegam a durar 8 horas. Nesses locais, é possível se reconectar à BR-319 após o trecho atingido pelas pontes em ruínas.
No entanto, além do maior tempo de viagem, os caminhoneiros também sentem no bolso o desafio de enfrentar as rotas alternativas.
“Dono de balsas estão cobrando R$ 2,5 mil para atravessar um ônibus desse. Os caminhoneiros estão pagando R$5.000 a carreta para atravessar”, afirmou o motorista Carlos Colares que utilizou uma balsa para enviar o veículo para Manaquiri.
A severa descida dos rios amazônicos também pode se tornar um entrave extra no desafio a ser enfrentado nas rotas alternativas. Isso porque a baixa do nível da água do Rio Solimões, por exemplo, tem dificultado a viagem de balsas para Manaquiri.
*G1 Amazonas