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Dólar cai pelo quarto pregão seguido e fecha a R$ 4,9024

Em baixa desde os primeiros minutos do pregão desta quinta-feira, o dólar acentuou o ritmo de queda ao longo da tarde, trabalhando a maior parte do tempo na casa de R$ 4,90, em dia positivo para os ativos domésticos. Com mínima de R$ 4,9024, o dólar spot fechou a R$ 4,9049 (recuo de 1,17%), o menor nível desde 10 de junho de 2020 (R$ 4,8406). Foi o quarto pregão consecutivo de perdas da moeda americana.

O real ganha força em meio à perspectiva de continuidade de alta da Selic e à revisão para cima das expectativas para o crescimento da economia brasileira, reiteradas pela divulgação desta quinta do Relatório Trimestre de Inflação (RTI). O Banco Central elevou a projeção para o PIB neste ano de 3,6% para 4,6% e adiantou que antevê uma nova alta de 0,75 ponto porcentual da Selic em agosto, sem fechar as portas, porém, para um aperto mais forte.

Com a normalização da política monetária e o fluxo contínuo de dólar – via balança comercial, pela alta das commodities, e captações externas -, não há motivos para o dólar não cair, avalia Sergio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital.

“O real começou a convergir para os fundamentos, à medida que o BC mostrou que vai realmente normalizar a taxa de juros”, diz Zanini, ressaltando que a valorização das commodities e o crescimento melhor que o esperado dão sustentação à moeda brasileira.

Analistas também chamam a atenção para a entrada de recursos estrangeiros em emissões de empresas brasileiras no exterior e operações de oferta inicial de ações (IPOs) nos próximos meses. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a XP emitiu US$ 750 milhões em bonds de cinco anos hoje. Mas a demanda teria sido bem maior, de US$ 1,6 bilhão.

Economistas do Instituto Internacional de Finanças (IFF) afirmaram nesta quinta, em relatório, que o valor justo do dólar seria de R$ 4,50, dados os fundamentos das contas externas do país, com os superávits comercias recordes, perto de 2% do PIB. Além disso, com a alta da Selic, o Brasil deve atrair capital de curto prazo.

O Wells Fargo, quarto maior banco americano dos Estados Unidos, colocou o real no topo das recomendações em moedas emergentes, ao lado do rublo da Rússia e do peso mexicano. O aperto monetário conduzido pelo BC brasileiro e os preços elevados das commodities no mercado internacional favorecem a moeda brasileira, segundo o banco.

O movimento de apreciação do real pode sofrer solavancos em razão das dúvidas sobre o início da alta de juros nos Estados Unidos, em meio a temores com a aceleração inflacionária. Declarações mais duras de dirigentes do Federal Reserve ao longo da tarde, contudo, não abalaram o apetite pela moeda brasileira

Juros

A quinta-feira foi de queda para os juros, definida pelo tom menos “hawkish” do Relatório de Inflação em comparação aos da ata e comunicado do Copom e pelo ambiente externo positivo que favoreceu moedas de economias emergentes, levando o dólar aqui para perto de R$ 4,90. O documento, associado às entrevistas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, esfriou a escalada das apostas de Selic na curva, recolocando no jogo a expectativa de aumento de 0,75 ponto porcentual, que havia desaparecido depois da ata para dar lugar à de 1,25 ponto, que nesta quinta, por sua vez, foi zerada. O Tesouro fez leilão de prefixados um pouco menor, o que contribuiu para não pressionar as taxas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a 5,725%, de 5,782% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 7,318% para 7,225%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 8,15%, de 8,255% na quarta, e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 8,53%, de 8,633%.

“O BC não subiu o tom, que foi mais neutro, menos hawk do que na ata. Mas o mercado viu que o BC está mesmo perseguindo as metas de inflação e que está enxergando melhora na parte fiscal”, resumiu o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima.

Tanto no relatório quanto nas declarações, o Banco Central não só reforçou seu compromisso com o cumprimento da meta, como reiterou a indicação de nova alta de 0,75 ponto da Selic em agosto. A meta para 2022 é de 3,5% e a mediana das estimativas na Pesquisa Focus está em 3,78%. Mas manteve o alerta que “passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar meta”. Ou seja, a porta segue aberta à possibilidade de elevação de 1 ponto porcentual, aposta que segue majoritária na curva.

Segundo o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, a precificação para as próximas duas reuniões é de 95 pontos-base, ou 80% de probabilidade de alta de 1 ponto e 20% de chance de aumento de 0,75 ponto.

Entre os pontos considerados “dovish” do RTI, Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, destaca a avaliação do BC sobre o hiato do produto e de melhora na trajetória fiscal. “No cenário-base, o BC vê o hiato fechando de forma mais lenta chegando ao nível próximo ao neutro em 2022. Junto com a melhora do fiscal, foram pontos mais dovish no documento”, disse. A autoridade monetária elevou sua projeção para o PIB de 2021, de 3,6% para 4,6%, mas que, como já destacado na ata, segue abaixo da mediana da Pesquisa Focus, de 5%, e de muitas previsões no mercado financeiro que já chegam perto de 6%.

Braga observou que mesmo antes do RI, o cenário externo nesta quinta já era positivo para moeda emergentes, “com o dólar cedendo bem”. “Quando se tem uma melhora persistente do câmbio como temos visto, uma hora parte disso vai chegar aos preços, não tem como”, comentou. O dólar chegou na mínima a R$ 4,9025 à tarde, ampliando o ritmo de baixa dos DIs longos, depois que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou acordo bipartidário com senadores sobre o pacote de infraestrutura, o que estimulou o apetite pelo risco.

Bolsa

Com dólar agora a R$ 4,90, renovando seus menores níveis desde junho de 2020 nas últimas sessões, e fazendo-se acompanhar por juros longos nas mínimas do pregão, o Ibovespa, vindo de duas leves perdas, recuperou ainda pela manhã e manteve a linha de 129 mil pontos no fechamento desta quinta-feira, em dia de dados econômicos bem assimilados no exterior; de relatório trimestral de inflação no Brasil, avaliado positivamente pelo mercado; e de novo sinal de Brasília sobre a reforma administrativa. O índice da B3 fechou em alta de 0,85%, aos 129.513,62 pontos, entre mínima de 128.427,97 e máxima de 129.541,18 pontos, renovada à tarde, com giro a R$ 32,0 bilhões. Na semana, avança 0,86%, elevando os ganhos do mês a 2,61% e os do ano a 8,82%.

No exterior, o dia foi positivo na Ásia, Europa e nos Estados Unidos, com o mercado mostrando mais conforto com os sinais sobre a política monetária do Fed, e com foco mais voltado ao crescimento econômico do que à inflação, na expectativa por pacote de infraestrutura nos EUA, sobre o qual o presidente Joe Biden afirmou, nesta tarde, haver entendimento bipartidário. Aqui, o relatório trimestral de inflação foi bem recebido pelos investidores, com elevação da expectativa de crescimento do PIB a 4,6%, e com revisão positiva também para o superávit em conta corrente, observa Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, reafirmou nesta quinta que a instituição usará “todos os instrumentos” para atingir a meta de inflação em 2022. O relatório do BC trouxe projeção de 5,8% para a inflação este ano e de 3,5% para o próximo. Se estes porcentuais se confirmarem, o BC terá descumprido a meta de 2021, mas cumprido a de 2022.

Nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, reiterou nesta quinta-feira visão de que a forte inflação deve moderar a partir de 2022, à medida que a demanda no país se normalize e os gargalos na cadeia de suprimentos sejam solucionados. Durante evento, o dirigente previu que a inflação ao consumidor deve ficar em torno de 2% no ano que vem e também no seguinte.

Nos Estados Unidos, “a rodada de dados (nesta quinta-feira) sugere que a economia está indo na direção certa, mas ainda não está desencadeando temor de que os formuladores se precipitem para apertar a política monetária”, observa em nota Edward Moya, analista da Oanda em Nova York, destacando a “falta de inquietação do mercado”, nesta sessão, ante as leituras sobre as encomendas de bens duráveis em maio, abaixo do esperado, e os pedidos semanais de auxílio-desemprego.

“A inflação e os juros, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, permanecem como uma questão em aberto. Para agosto, podemos esperar aumento de 0,75 ou de 1 ponto porcentual para a Selic. O Fed tem conseguido fazer o mercado aderir a considerações de seus dirigentes sobre a transitoriedade da inflação. Por enquanto, o que tem prevalecido é a percepção de PIB maior para o ano, lá como aqui, o que se reflete em recuperação para as ações com exposição à retomada da atividade, como o varejo, e melhora da confiança do consumidor”, diz Thiago Raymon, head de estratégia da Wise Investimentos.

Na ponta do Ibovespa na sessão, destaque para JHSF (+6,23%), à frente de Magazine Luiza (+5,20%) e Lojas Americanas (+4,48%). No lado oposto, Banco Inter (-3,45%), Locaweb (-2,45%) e Eletrobras ON (-1,31%). As blue chips tiveram desempenho majoritariamente positivo, com Petrobras PN e ON em alta respectivamente de 1,19% (na máxima do dia no fechamento) e 1,53%, Bradesco PN, de 0,74%, e ganhos de até 3,31% no segmento de siderurgia (CSN ON) – Vale ON virou no fim para fechar em leve alta de 0,14%.

Em junho, conforme dados referentes até o dia 22 divulgados nesta quinta pela B3, os investimentos estrangeiros somam R$ 14,222 bilhões, em termos líquidos. No acumulado do ano, o fluxo de ingresso líquido chega a R$ 45,602 bilhões.

“Há uma força estrangeira compradora, os estrangeiros seguem comprando Brasil e junho já é o terceiro mês de aportes seguidos Nas últimas semanas, UBS, JPMorgan e Bank of America elevaram para ‘overweight’ o peso do Brasil nas carteiras, principalmente com a expectativa melhor para o PIB, devido à reabertura e a vacinação”, diz Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos. “No campo doméstico, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse ser possível aprovar uma reforma administrativa até setembro, notícia bem positiva para a parte fiscal”, acrescenta. “Vale destacar também o acordo anunciado pelo presidente Biden, dos Estados Unidos, sobre o pacote de infraestrutura, que pode injetar ainda mais liquidez na economia americana.”

Fonte: Estadão Conteúdo

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