Quando falamos em relacionamentos abusivos, um dos maiores questionamentos é o motivo de tantas pessoas permanecerem nessa situação. Uma das explicações está no fato das vítimas muitas vezes demorarem a entender o que vivem e que aquilo que elas acreditavam ser um relacionamento como outro qualquer – afinal, “todo relacionamento tem briga”, é na verdade uma relação abusiva, mesmo que ela jamais tenha uma marca física pra provar o que vivência.
A violência não física existente nos relacionamentos abusivos, começa de forma muito sutil: é aquele controle excessivo disfarçado de “cuidado”, aquele ciúme doentio justificado como “medo de perder”, aquele pedido carinhoso que você “viva só pra ele”, fazendo com que a vítima acredite que encontrou o amor da sua vida, o príncipe dos sonhos: educado, gentil, carinhoso e amoroso. Até que acontece a primeira decepção, ele grita com você por nada e por qualquer coisa, te ofende, te acusa de não fazer nada direito, te chama de inútil, que se você o deixa-lo, jamais conseguira alguém tão perfeito quanto ele.
O tempo vai passando e a mulher, isolada dos amigos e da família, tende a acreditar que “ruim com ele, pior sem ele”. É quando o abusador atinge o seu objetivo: exercer poder sobre a mulher, suas vontades, sua vida, suas escolhas, e a partir daí o termômetro da violência só aumenta, afinal para que ele se sinta cada vez mais seu dono mais ele tem que te humilhar e maltratar. O abusador pega a vítima de surpresa, ela não está esperando por uma palavra ou gesto violento, vítimas de relações abusivas sem a violência física, demoram a perceber que aquela relação não tem futuro, quando enfim, elas percebem que eles realmente agem assim porque querem, e elas não se sentem mais protegidas nessa relação, elas se descobrem num relacionamento tão deformado que não conseguem enxergar uma saída.
Quando gritos e xingamentos não humilham mais a mulher, alguns homens criam uma nova variação de abuso e começam a ameaçar os filhos, os animais de estimação, danificam bens materiais como carro ou bens de apego afetivo, dessa forma o dano emocional não causa somente um profundo sofrimento, mas a angústia de uma ameaça do que pode vir a acontecer com essa vítima, caso ela resolva se libertar do inferno em que vive.
É necessário esclarecer, que não há perfil determinado para saber quem vai e quem não ser vítima de uma relação abusiva, da mesma forma não estou afirmando que somente as mulheres sofrem o abuso, estou por ora trazendo um dado real que se cruza com os estudos sobre a violência no país e demonstra maiores taxas em relação às mulheres. Os números de casos de violência doméstica deram um enorme salto durante a Pandemia, segundo a ONU Mulheres mais de 200 milhões de mulheres e adolescentes entre 15 e 49 anos foram submetidas a violência sexual e/ou física por um parceiro íntimo, e estamos falando da violência visível, aquela que deixa cicatrizes no corpo, se voltarmos a questão pra violência psicológica e emocional, esse número deve ser muito maior, infelizmente.
Precisamos informar a população sobre as várias formas de violência dentro de um relacionamento, deixar claro que não se trata de abuso somente quando se chega às vias de fato, quando isso acontece, o abuso psicológico já está ocorrendo há algum tempo e a mulher nem se deu conta, pois passou a vida ouvindo e lendo pra ser abusivo tem que ter violência física. Caso você tenha se identificado com alguma das situações descritas, por favor, busque ajuda. Sabemos que você não tem culpa, você não escolheu viver uma relação dessa forma. Em Manaus busque a DEAM – Delegacia da Mulher, peça ajuda pelo 180 – Central de Atendimento à Mulher, façamos valer os direitos da mulher garantidos pela Lei Maria da Penha. Não desista!!
Por
Danielle Loureiro – Psicóloga CRP 20/02328 e adm da página @danielle.loureiro.psi