Arquivo de Notícias2021 | 2022

Esquece o Bonde da História, vamos embarcar no carro elétrico e autônomo.

Aquilo fazia parte do processo de formação. Chegava a idade e meus irmãos entravam para a escola de Datilografia Ideal, da professora Carmela Faraco. Era um passaporte para empregabilidade. Salvo engano, era ali na Coronel Salgado, na Aparecida, onde hoje tem feira às terças. Quando chegou a minha vez, já não fazia sentido.

Em poucos anos, dirigir carro vai ser como ter estudado datilografia. Meus netos provavelmente não vão desenvolver ou precisar dessa habilidade, o assunto vai  animar a conversas de grupo, de amigos e família: “Esse dirigia feito um maluco.”

O fato é que a indústria automobilística está passando por uma revolução que vai ter, inexoravelmente, a força disruptiva de um furacão. Não apenas na economia, mas na forma de organizar a sociedade.  O automóvel mudou e moldou a estrutura do espaço urbano, de toda a infraestrutura da cidade. Cidades milenares, como Paris, tiveram de se adaptar, seja com os estacionamentos subterrâneos, seja com anéis viários (lá o Boulevard Périphérique). Cidades adolescentes, como Palmas, foram desenhadas na visão automobilística. Mas isso vai mudar. Sério? Com certeza.

Agora, a direção autônoma e a motorização elétrica estão se impondo. As tecnologias para isso já estavam aí, há algum tempo, mas não interessavam as líderes do mercado. Estudos mostravam que carro autônomo significa diminuir o número de carros por família, permitindo o uso múltiplo. E a eletrificação da motorização também implica em investimentos vultosos. Isto não, obviamente, interessou às empresas. Só que novos players apareceram, buscando ocupar o espaço e ganhar o mercado. Resultado: Uma corrida tecnológica com os tradicionais e novos fabricantes na busca das melhores soluções.

Algumas mudanças são óbvias. Menos carros, mais espaço e não apenas nas ruas. Um carro sem motorista não precisa ficar parado, pode lhe deixar no escritório e depois levar sua mãe ao supermercado, seu filho à academia e por aí vai. Ninguém precisa parar de trabalhar e de se deslocar, o compartilhamento fica facilitado. Onde, hoje, estão os onipresentes estacionamentos, serão criados novos espaços, serão liberados. Especialmente, com a adoção do home office. Assim, o setor imobiliário deve ser um dos mais afetados. Em que direção, ainda é incerto. Mas há muito mais.

Os impactos são múltiplos e diversos, muda não apenas a organização do espaço urbano, mas relações de trabalho, de consumo, de produção.

Cenários desenhados, até aqui, mostram impactos que não podem ser ignorados. Por exemplo:

  • Perda estimada de mais de 5 milhões de empregos, somente na área de condução. Caminhoneiros, motoristas de ônibus, taxistas e motoristas de aplicativos, são ocupações que desapareceriam. Já há caminhões autônomos rodando nos canaviais de Pernambuco, na época da colheita da safra;
  • Queda monumental da demanda por petróleo bruto. Essa indústria trilionária (Refinarias, plataformas, gasodutos) pode se tornar irrelevante. Milhões de emprego de alta qualificação serão afetados. Impactos ambientais positivos devem ocorrer;
  • Implosão da atual cadeia de suprimentos da indústria automotiva. Carros elétricos e automatizados tem muito menos hardware, do que os com motores à combustão. Mais empregos detonados;
  • Mobilidade inteligente, como serviço, substituirá as vendas como modelo de geração de valor. Hoje, a propriedade de carros, já vem sendo substituída por fórmulas alternativas (por exemplo, as assinaturas). A maioria das montadoras já está se preparando para essa mudança comprando empresas de serviços de mobilidade ou criando as suas próprias do zero. Empregos devem ser criados para gestão.
  • Provável fim das concessionárias, impactadas pela mudança do modelo de negócios, não devem prosperar. De igual forma as pequenas e médias oficinas seguirão a mesma sorte.
  • Fretes devem ter custos bastantes reduzidos;
  • Redução significativa da Indústria de seguro automotivos pela redução de acidentes, impacto nos empregos;  
  • Redução do custo saúde de acidentes automobilísticos;
  • Incremento exponencial da indústria de tecnologia da informação e telecomunicações. Carros embarcarão conectividade em um nível excepcional, As estradas serão fonte monumentl de dados. A McKinsey prevê faturamento, neste segmento, de US$ 750,0 milhões já em 2030. Empregos de qualidade devem ser criados.
  • Incremento de investimentos na ordem de trilhões na atualização da infraestrutura física e lógica (É para isso que Biden quer convencer o Congresso Americano), potencial criação de empregos de média complexidade.

Enfim, tudo ainda são tentativas de aproximação dos cenários prováveis. Mas a certeza é que a mudança virá e logo ali na esquina. Vai chegar não apenas a Nova York, São Paulo, mas a Manacapuru e Tefé também.

Quem é quem, nesse mundo? Quem vai se dar bem? Como ficamos nós?

Vamos lá. Você conhece ou já ouviu falar da canadense Magna International? Não? Não é surpresa, muitos poucos ouviram. Mas somos clientes dela, ou pelo menos o fabricante do nosso carro. Chassis, transmissões, câmeras, mecatrônica, estofados, e por aí vai. Pense em qualquer marca e ela terá fornecido algo, da GM à Tesla. Sendo uma das mais tradicionais, se coloca como uma das mais inovadoras.  Hoje, além de ser fabricante de todo tido de peças, atua como contract manufacturer (OEM) de algumas marcas. E desenvolve soluções inovadoras para Tesla e Fisker as principais desafiantes das grandes montadoras.

Há muito se especula a entrada da Apple nesse mercado. “Se a Apple está pensando seriamente em fazer carros elétricos autônomos, a Magna Steyr deveria fazê-lo” diz Chris McNally,  da Consultoria Evercore. A Magna Steyr é uma subsidiária. As ações da empresa-mãe triplicaram desde março. Mas a maré não está para peixe. Ontem a Foxconn, que manufatura o Iphone para Apple, resolveu desafiar a gigante do setor.

A percepção da empresa é que o advento dos veículos elétricos, e de direção autônoma, está virando a estrutura e o funcionamento interno dos carros de cabeça para baixo. No processo, está criando uma fusão muito mais forte entre duas das maiores indústrias do mundo – automóveis e eletrônicos. O presidente da Foxconn, Young Liu, diz que isso dá à empresa dele – com sua experiência em ciclos de produtos mais curtos e velocidade geral – uma vantagem clara. 

Young Liu defende que os modelos de negócios “just in time” das montadoras e a maneira como gerenciam os fornecedores estão desatualizados e precisam mudar. “Gostaríamos de trazer essa mudança para a indústria automobilística”. E a Foxconn se pôs em campo e já começou inovando. Estruturou a Aliança MIH, um instrumento de desenvolvimento open source, que já conta com mais de 1.600 parceiros, alguns dos mais relevantes da indústria automobilística e de componentes eletrônicos.

Há outros atores, é verdade, mas essa competição específica é emblemática e promete. Se de um lado, a Magna é a responsável pela produção do modelo “Ocean”, da Fisker, que deverá chegar ao mercado em 2022, de lado outro, a Foxconn e a Fisker desenvolvem o Projeto PEAR (Personal Electric Automotive Revolution), algo como Revolução Automotiva Elétrica Pessoal, que deve entregar outro modelo em 2023. Segundo a Fisker, a única coisa em comum com um carro atual deve ser que tenha 4 rodas.

Ah, e nós, aqui em Manaus? Bem, deveria ser uma oportunidade, mas estamos agindo como no tempo que o sujeito levou as mudas de borracha para a Malásia, e ficamos esperando para ver o que acontecia, deu no que deu.

Nós continuamos tropeçando em nossas próprias pernas, criando nossas próprias dificuldades. Há 30 anos vivemos falando da urgência de se modernizar o Sistema Tributário, que alguns chamam de manicômio tributário. Há 30 anos que sucessivas iniciativas reconhecem a urgência do tema, mas não se concluem no parlamento. Há 30 anos que convivemos  com essa insegurança jurídica, pois queremos mudar, tomamos a iniciativa e não concluímos. Que senso de urgência é esse?

Há alguns anos atrás, um dos mais dinâmicos gestores do Polo Industrial passou um mês dentro das lojas de varejo de um cliente de sua empresa, para o  qual vendia tv´s de tubo. Estava tentando entender por que esse tipo de TV não estava vendendo mais tão bem. A primeira conclusão foi que as Tv´s de tubo ficavam no fundo das lojas, escondidas, enquanto as de tela plana, na frente das lojas, e tentou mudar isso. Mas logo chegou à conclusão de que o tempo da mudança tinha chegado. 

O tempo da mudança chegou. E é um tempo de oportunidade. Somos um dos polos   fabricantes de componentes eletrônicos, temos ainda mais 52 anos assegurados de incentivos fiscais. Mas parece que escolhemos ficar olhando a banda passar.

Há diversos passos a serem dados, nesse e em outras dinâmicas de atualização da economia mundial. Mas a segurança jurídica é fundamental.

Reforma Tributária é tema complexo eu sei, mas precisa ser enfrentado e ser concluído. Agora zerou-se o jogo, mais uma vez. Sabe o que é pior? Não vai ser feita nesta legislatura, anote aí.

O maior problema nem é quem vai pagar ou quanto vai ser a carga tributária, o que já é complicadíssimo. O nó maior sempre vai ser como ratear a arrecadação. Reforma significa mudar o status quo. Se mudar alguém perde e alguém ganha. Nem União, nem Estados, nem Municípios, trabalham com a hipótese de redução da participação do bolo tributário, salvo se redesenharem as obrigações de cada um.

Uma reforma ou funciona em ambiente de crescimento econômico, quando os ganhos brutos de arrecadação minoram ou evitam as perdas percentuais de participação no bolo tributário. Ou em um ambiente de absoluta depressão, quando algo deve ser tentado desesperadamente.

Não é no âmbito de uma política recessiva, como a que vivenciamos agora, que se construirá o consenso para mudança. Ah, e reforma fatiada não é boa ideia, sugere que ficamos no meio do caminho e algo ainda vai ser mudado para ficar bom. Tem de ser feita em início de governo. É assunto para priorizar em 2023. Mas precisamos discutir desde já.

P.S _ Ah! Uma das minhas maiores esperanças no carro autônomo é que ele não para no meio do cruzamento, fechando o trânsito quando o sinal abrir.

3 COMMENTS

  1. revolução automobilistica, vem aí? me sinto pronta! hahaha ameiii muito e acredito que em um futuro, talvez, nao tão distante, realmente aconteça.

  2. revolução automobilistica, vem ai? me sinto pronta! hahahaha muuuito bom o conteúdo e acredito que em um futuro, nao tao distante, isso será realidade.

Deixe um comentário para Luma Cancel reply

Please enter your comment!
Please enter your name here