A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (23) operação contra supostas fraudes em convênios de prefeituras de Roraima com o governo federal. Um dos investigados é o ex-senador Romero Jucá (MDB), apurou o a GloboNews.
A PF cumpre 22 mandados de busca e apreensão na Operação Imhotep. Os contratos investigados somam R$ 500 milhões em verbas. Agentes federais estiveram no prédio onde funcionam uma produtora e o escritório de Jucá no bairro Canarinho, zona Norte de Boa Vista, e também na casa dele, no bairro Paraviana, área nobre da cidade.
Em nota, o senador informou disse ter sido “surpreendido com uma operação sem fundamento”, mas “de qualquer maneira, está colaborando com toda a investigação e prestando os devidos esclarecimentos.”
A PF levantou na investigação que três empresas de engenharia são suspeitas de pagar propinas em contratos que seriam distribuídas ao ex-senador Jucá e a servidores públicos que auxiliariam na prática dos crimes.
O esquema de propina funcionava por meio de verbas do programa federal Calha Norte que deveriam ser destinadas às prefeituras.
Na investigação, a PF identificou que as prefeituras recebiam verbas do programa e Romero Jucá indicava empresas para executarem os serviços. Essas empresas, segundo a polícia, fechavam contratos com a prefeitura para fazer os trabalhos, e subcontratavam outras firmas de familiares ligadas ao ex-senador. Ao receber os valores, repassavam para Jucá em forma de propina.
A Rede Amazônica apurou que a investigação da PF apontou que os recursos direcionados às prefeituras eram indicados pelo ex-senador, que tinha forte poder político de como iria circular os valores dentro do grupo montado por ele.
Ainda nota, Jucá afirmou que “este programa é rigidamente acompanhado pelos órgãos fiscalizadores e pelo Exército Brasileiro, de modo que, em nenhum momento, houve denúncia de irregularidades nas obras realizadas.”
“Romero Jucá atuou nesta questão cumprindo o seu papel como parlamentar. Ou seja, fazendo a interlocução entre o Ministério da Defesa e os municípios atendidos para a realização de obras que melhoraram a infraestrutura das cidades e a qualidade de vida das pessoas”, disse (leia a nota na íntegra no fim da reportagem).
Os principais crimes investigados são fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A soma das penas para estes crimes podem ultrapassar 35 anos de reclusão.
Além de Jucá, pessoas ligadas a ele são alvos da operação. Não foram informados os nomes dos demais investigados.
As investigações da PF encontraram indícios da existência de uma organização criminosa suspeita de fraudar a celebração de convênios com prefeituras em Roraima entre os anos de 2012 e 2017, em especial com o município de Boa Vista.
O período investigado coincide com a gestão da ex-prefeita Teresa Surita – braço direito de Jucá em Roraima, ela governou a capital de 2013 a 2020. Procurada, a assessoria dela ainda não enviou resposta.
As investigações da PF e da Controladoria Geral da União (CGU) identificaram que ao menos R$ 15 milhões foram pagos em propina. O valor que teria sido destinado ao ex-senador não foi informado.
Há indícios que o ex-senador interferiria em assuntos relacionados a convênios nos quais houvesse a aplicação de verbas federais viabilizadas por ele, havendo evidências, inclusive, do ‘travamento’ de pagamentos de verbas de emendas parlamentares de sua autoria caso não houvesse o repasse de propinas.
Os recursos chegariam ao ex-parlamentar por meio de familiares e de empresas de que são sócios, que receberiam os valores inicialmente.
Os mandados foram expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Roraima, e são cumpridos nos estados do Roraima, São Paulo e Distrito Federal.
Operação Imhotep – O nome da operação faz alusão a Imhotep, que é reconhecido como um grande “engenheiro” do Egito antigo, a quem é atribuído a construção de várias obras faraônicas, como a Pirâmide de Djoser.
Sobre Romero Jucá
Político influente em Roraima e em todo o país, Romero Jucá foi senador durante 24 anos por Roraima. Ele deixou o cargo em 2018, quando não conseguiu se reeleger após três mandados consecutivos. Este ano, tentou novamente voltar para o cargo, mas sofreu nova derrota.
Durante o tempo em que foi senador, Jucá foi líder do governo federal no Senado nas gestões dos presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Antes de ser senador, Jucá presidiu a presidiu a Fundação Nacional do Índio (Funai) no ano de em 1986, quando ainda estava em Pernambuco, seu estado natal.
Além disso, governou o recém-criado estado de Roraima entre 1988 e 1990 por nomeação do presidente José Sarney.
Nota do ex-senador sobre a operação Imhotep
Romero Jucá destaca que foi surpreendido com uma operação sem fundamento realizada na manhã desta quarta-feira (23).
De qualquer maneira, está colaborando com toda a investigação e prestando os devidos esclarecimentos.
Segundo as informações preliminares da imprensa, tal investigação trata de convênios com o programa Calha Norte, firmados entre 2012 e 2017.
Este programa é rigidamente acompanhado pelos órgãos fiscalizadores e pelo Exército Brasileiro, de modo que, em nenhum momento, houve denúncia de irregularidades nas obras realizadas.
Romero Jucá atuou nesta questão cumprindo o seu papel como parlamentar. Ou seja, fazendo a interlocução entre o Ministério da Defesa e os municípios atendidos para a realização de obras que melhoraram a infraestrutura das cidades e a qualidade de vida das pessoas.
Destaca-se que todo o trâmite de execução das obras compete única e exclusivamente aos municípios contemplados com os recursos.
Romero Jucá está tranquilo e confiante de que as investigações irão esclarecer a licitude dos atos praticados.
*G1