A comunidade internacional expressou sua profunda preocupação neste sábado (15), após os bombardeios israelenses em Gaza que destruíram escritórios da mídia internacional, matando oito menores, e o lançamento de foguetes do enclave palestino contra várias grandes cidades de Israel.
Desde o início, na segunda-feira, deste novo ciclo de violência entre o Estado hebreu e grupos palestinos na Faixa de Gaza, 115 pessoas morreram, a maioria palestinos.
Em Gaza, o prédio de 13 andares que abrigava os escritórios da rede Al Jazeera, do Catar, e da agência de notícias norte-americana Associated Press (AP) foi pulverizado por vários mísseis, segundo jornalistas da AFP. O exército israelense havia solicitado momentos antes que o prédio fosse evacuado.
Em nota, as Forças Armadas israelenses confirmaram que seus caças “atacaram um prédio que abrigava alvos militares, pertencente à inteligência militar da organização terrorista Hamas”, que utiliza como “escudos humanos” os civis neste enclave de milhões de habitantes.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse na televisão que tem o apoio “inequívoco” do presidente dos EUA, Joe Biden, que teria reiterado em uma conversa por telefone o direito de Israel “de se defender” dos ataques do Hamas ao mesmo tempo em que manifestou sua preocupação com a “segurança dos jornalistas”.
Mais tarde, outro prédio com uma dúzia de andares, a torre Al Andalus, foi seriamente danificada por novos bombardeios, confirmaram jornalistas da AFP. Por volta da meia-noite, o Hamas lançou novos mísseis contra cidades israelenses como Tel Aviv.
– AP “chocada e horrorizada” –
A gerência da agência AP afirmou que ficou “chocada e horrorizada” com o ataque israelense. “Evitamos por pouco terríveis perdas humanas”, disse o chefe da AP, Gary Pruitt, em um comunicado.
O chefe da rede Al Jazeera em Israel e nos Territórios Palestinos, Walid al Omari, declarou à AFP que Israel “decidiu não apenas causar destruição e mortes, mas silenciar aqueles que as demonstrarem”.
A Agence France Presse (AFP) expressou sua “solidariedade” com “colegas da Associated Press e da Al Jazeera”. “O direito à informação deve ser escrupulosamente respeitado por todas as partes no conflito”, afirmou o presidente da agência, Fabrice Fries.
“Estamos profundamente chocados com o fato de que os escritórios da mídia estão sendo atacados dessa forma”, disse o diretor de informação da agência, Phil Chetwynd.
Em 2012, o prédio que abrigava o escritório da AFP em Gaza foi atingido por mísseis israelenses, mas os jornalistas presentes – três andares abaixo do impacto – saíram ilesos.
Pela primeira vez desde que chegou à Casa Branca em janeiro, o presidente dos Estados Unidos também falou com seu homólogo palestino, Mahmoud Abbas, baseado na Cisjordânia ocupada, que lhe pediu que interviesse para impedir “os ataques israelenses”.
Biden “ressaltou a necessidade de o Hamas parar de disparar foguetes contra Israel”, segundo nota da Casa Branca.
Enquanto isso, o chefe de assuntos israelenses e palestinos do Departamento de Estado dos EUA, Hady Amr, deve se encontrar com líderes israelenses em Jerusalém no domingo e visitar a Cisjordânia para se reunir com autoridades palestinas. No mesmo dia, o Conselho de Segurança da ONU voltará a se reunir.
Embora os esforços diplomáticos tenham sido intensificados para encerrar cinco dias de combates violentos, cerca de 300 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza contra Israel na noite de sexta-feira, de acordo com o exército israelense.
Um israelense de 50 anos foi atingido por esses disparos nos arredores de Tel Aviv enquanto dirigia, informou a polícia e os serviços médicos israelenses.
O Hamas afirmou ter disparado a salva de foguetes contra o centro de Israel para vingar um bombardeio israelente “contra mulheres e crianças”.
Dez palestinos da mesma família, incluindo duas mulheres e oito crianças, foram mortos ao amanhecer no ataque ao campo de refugiados de Al Shati, na cidade de Gaza.
“As crianças continuam a ser vítimas dessa escalada sangrenta”, lamentou Tor Wennesland, emissário da ONU para o Oriente Médio, que se disse “apavorado”.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, indicou estar “consternado” com as mortes de civis em Gaza e “profundamente perturbado” pelo ataque de Israel aos escritórios da mídia internacional.
– “Nakba” –
Desde segunda-feira, pelo menos 145 palestinos perderam a vida, incluindo 41 menores, e 1.100 ficaram feridos, de acordo com o último balanço das autoridades palestinas.
Esta operação israelense é a mais importante desde a guerra de 2014 com o movimento islâmico em Gaza, e foi lançada depois que o Hamas disparou uma enxurrada de foguetes contra Israel como uma demonstração de sua “solidariedade” com o levante palestino na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental.
Desde então, mais de 2.300 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza contra Israel, matando 10 pessoas, incluindo um menor e um soldado, e ferindo 560.
De acordo com os militares, o escudo antimísseis “Cúpula de Ferro” interceptou mais da metade dos projéteis.
Os palestinos relembram o Nakba a cada 15 de maio, uma “catástrofe” representada para eles pela criação de Israel em 1948, que levou ao êxodo de centenas de milhares de pessoas.
Milhares de manifestantes foram às ruas de várias cidades da Europa, dos Estados Unidos e de outros países em apoio aos palestinos nos confrontos com Israel.
Dois palestinos foram mortos em confrontos com as forças de segurança israelenses na Cisjordânia, após altercações anteriores em que outras 11 pessoas foram mortas, de acordo com os serviços de saúde palestinos.
O ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, ameaçou “cancelar as medidas de ajuda econômica à sociedade palestina” se os distúrbios na Cisjordânia continuarem.
Além disso, em seu território, Israel também enfrenta uma escalada sem precedentes de violência intercomunitária em suas cidades “mistas”, onde judeus e palestinos com cidadania israelense coexistem, especialmente em Lod (centro), Jaffa perto de Tel Aviv e Acre, no Norte do país.
E na fronteira com o Líbano ocorreram vários incidentes, incluindo uma tentativa de infiltração de manifestantes libaneses, segundo o exército.
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