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O dinheiro vai acabar. Sua carteira também.

A Dinamarca é classificada como o país menos corrupto do mundo, pelo Índice de Percepção da Corrupção (CPI, em inglês), da Transparência Internacional. O índice busca identificar os países com melhores mecanismos de controle e combate à corrupção.

A Dinamarca é, também, sede do Danske Bank, epicentro do escândalo de lavagem de dinheiro, descoberto em 2017-2018, no valor em torno de € 200 bilhões (algo em torno de R$ 1,32 Trilhões), em transações ilícitas provenientes de mais de 150 países, majoritariamente de Rússia, Estônia Letônia, Chipre e Reino Unido. É o maior escândalo de lavagem de dinheiro de todos os tempos na Europa, e possivelmente o maior da história mundial.

A Dinamarca não tinha os poderes, recursos ou capacidade necessários para supervisionar o setor financeiro, diz a mesma Transparência Internacional, no mesmo relatório que coloca o país na primeira posição do seu ranking. Pode isso?

O diabo é que a corrupção resulta do barro que somos feitos. A nossa indignação diária com o que vemos nas operações policiais, nos dinheiros nas cuecas e tudo mais, gera a percepção de que o Brasil é o pior de todos, mas o fato é que a corrupção perpassa, desde tempos imemoriais, todas as sociedades. Quer ver?

A Airbus SE, francesa, hoje maior fabricante de aeronaves civis e militares, concordou em pagar mais de US$ 3,9 bilhões para resolver encargos de suborno estrangeiro com autoridades nos Estados Unidos, França e Reino Unido. Esta é a maior resolução global de suborno estrangeiro até hoje.

A alemã Siemens admitiu, em 2008, que, salvo a divisão de lâmpadas e congêneres, o suborno era generalizado, para obter vantagens nos negócios. De Noruega, Grécia a Bangladesh e Nigéria, era prática recorrente. A empresa pagou US$ 1,6 bilhão em multas. E lá tem ainda a fraude da Volkswagen, no controle de emissões de gases dos carros produzidos.

Os canadenses Micheline Charest e Ronald Weinberg, do estúdio de animação CINAR, desviaram mais de U$ 120 milhões da empresa para as Bahamas. Condenados, estão em liberdade condicional.

A empresa americana Halliburton, que teve como Presidente do Conselho de Administração, Dick Chenney, recebeu contratos – sem licitação – de mais de U$ 40,0 bilhões, para reconstrução do Iraque. Desse total, US$ 7,0 bilhões foram definidos antes da Invasão, quando o mesmo Dick Chenney era Vice-Presidente. Quem denunciou e testemunhou no Congresso Americano, foi Bunnatine Greenhouse, chefa de compras do Corpo de Engenheiros do Exército, que se indignou com os fatos. Sem ela nada saberíamos.

Diga um país no mundo e haverá escândalos de corrupção. O perigo fica maior quando se torna institucional. Exemplo clássico moderno é o da família de Ben Ali, na Tunísia, que durante os 24 anos que ele presidiu o país, ditou as regras, cobrando de empresas e investidores para atuar no país. Até que uma revolução popular os tirou do poder, naquele que é um dos países mais modernos da África. O folclórico, corrupto e perigoso sujeito da Belarus pensa que o país é dele. Tem cada maluco que chega a presidente, né?

Ah, e tem a Lava-jato, “Existem propinas e existem as propinas da Odebrecht”, diz, num exercício de sincericídio, a Bloomberg, reconhecendo o que estamos afirmando.

Então, não tem jeito, é isso? 

Vai ser uma luta permanente, mas uma iniciativa discutida já algum tempo pode mudar esse cenário. Quer identificar a corrupção? Follow the Money!!!  O dinheiro deixa rastros. Agora, autoridades de diversos países avançam na discussão de acabar com o dinheiro, como forma de combater a corrupção. – Como acabar com o dinheiro? Não existe isso. Existe, sim. 

A ideia é simples e hoje a tecnologia permite. Sem o dinheiro físico, fica mais fácil rastrear e monitorar as transações. 

Hoje, motivado pelo terrorismo internacional, os países intensificaram o compartilhamento de informações, o que inclusive fundamentou a iniciativa da lei 13.254/16, que permitiu o “repatriamento de capitais”, em condições favorecidas. O dinheiro que estava no exterior, passou a ser conhecido pelas autoridades brasileiras. Descobertos e “na casa do sem jeito”, muita gente boa registrou oficialmente e trouxe o dinheiro de volta. Mas agora é muito mais que isso.

Em 2016, o Banco Central Europeu deu um primeiro passo, decidiu parar de emitir notas de 500 euros, em um movimento que teve por objetivo restringir fraudes e lavagem de dinheiro. A nota de 500 euros era, e é, a segunda maior denominação atualmente em toda a zona da moeda comum do euro, e o BCE afirma que é a nota preferida entre os criminosos.

Uma medida mais ousada, ainda não descartada, é estabelecer um prazo para a validade dessa nota, que está em circulação (na verdade, estocada). Igual medida seria adotada para algumas series da nota de 100 dólares. Quem não tem nada “guardado” não tem ideia do impacto da medida. Um Everest de dinheiro vivo, cash, cacau, bufunfa, teria de “aparecer” ou deixaria de existir. Lembre ai que o Pablo Escobar “guardava” pilhas e pilhas de sacos com dinheiro, só os ratos (de verdade) roeram US$ 1,0 bilhão, a turma dele gastava mais de US$ 2.500 só na compra de liga elástica para o dinheiro.

Mas há aspectos econômicos complexos nesse processo. A bancarização é um deles. Milhões de brasileiros, e de pessoas mundo afora, não estão no sistema bancário. As filas imensas a porta da Caixa Econômica para receber o Auxílio Emergencial, por conta da pandemia, são um indicador não desprezível.

A definição e análise dos efeitos dos “agregados monetários”, que mede a disponibilidade de recursos em uma determinada economia, com efeitos nos juros e na inflação, precisariam ser redesenhadas mais profundamente. Mas não seria uma tarefa de outro mundo.

E os críticos dizem que eliminar dinheiro não vai eliminar o crime, mas sim induzir a novas formas de acumular os ganhos e que seria o mote para a disseminação das moedas digitais (tipo bitcoin), criando um mundo econômico paralelo.

Lembra do comercial onde um sujeito viajando de carro, parava e colhia uma laranja direto da arvore, e logo aparecia o dono com uma maquininha para cobrar? Esse o caminho. A mim, parece que o fim do dinheiro físico é inevitável, mas não é um processo abrupto. 

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