A sensação de incompetência, a frustração de não ter o desempenho que esperava e a vergonha por se considerar o pior funcionário do setor são sentimentos que acompanham quem tem TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) em diversos momentos da vida profissional. Os pacientes ainda enfrentam a invisibilidade e o preconceito no mercado de trabalho, já que falta conhecimento sobre a patologia, que, até hoje, permanece quase exclusivamente associada à infância e a estereótipos negativos.
“Tive vários empregos nos quais não consegui ficar mais de três meses”, conta Sabrina Carvalho de Aguiar, de 30 anos, product manager (gerente de produtos) da Danone Brasil, diagnosticada com TDAH aos 22 anos. Em 2022, ela também descobriu ter TEA (Transtorno do Espectro Autista).
“Existe uma visão única do que é um bom funcionário, e eu, apesar de ter bom desempenho, era conhecida como a moça que nem sempre chegava no horário, ou que saía muito cedo”, diz. Ela procurou ajuda médica depois de passar por crises de falta de ar e de pânico, que a impediam de trabalhar e até de sair de casa.
“Eu realmente não conseguia trabalhar. Falei para o médico que eu tinha alguma coisa de diferente, e comecei um acompanhamento psicológico. Daí tive a oportunidade de fazer o teste neuropsicológico, que indicou o TDAH”, explica Sabrina.
Depois de começar o tratamento, com o uso de medicamentos, ela sentiu a diferença. “Isso me ajudou muito a ter mais controle da atenção e a me organizar melhor. Consegui entender o que afeta minha qualidade de vida e passei a adaptar as atividades de acordo com as obrigações. Assim, posso evitar determinados estímulos quando sei que vou ter um dia muito cheio.”
Entre as várias estratégias adotadas pela gerente de produtos está escolher um ambiente adequado para tirar o máximo de sua capacidade. “Quando sei que preciso ter um melhor aproveitamento, procuro um local onde eu me sinto mais confortável para trabalhar.”
Bruno de Lima Nunes, 40 anos, digital influencer, empresário e professor de inglês, também descobriu o TDAH quando já era adulto, na época em que fazia faculdade de engenharia elétrica em Itajubá, no sul de Minas Gerais. “Minha vida acadêmica era confusa, eu não conseguia terminar as coisas, não conseguia estudar. Antes [no colégio], eu também não estudava, nem sabia estudar, e era um excelente aluno”, relata.
Ele não entendia como não tirava notas baixas na infância e na adolescência. “Eu lia a matéria e minhas anotações no carro, indo para a escola, 15, 20 minutos antes da prova.”
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