Olá habitantes do multiverso da nerdice! Hoje o assunto da coluna é polêmico. Com o aumento exponencial dos preços dos quadrinhos e a opção das editoras cada vez mais por formatos mais luxuosos, as publicações mensais vão acabar? Colecionar quadrinhos vai se tornar luxo, um nicho de mercado? A atitude das editoras é uma necessidade ou simplesmente uma gourmetização?
Vamos lá dissertar sobre o assunto. Sigam-me os bons!
O BOM E VELHO FORMATINHO

Quem era criança nos anos 80, 90, até o começo dos anos 2000, lembra bem dos famosos “formatinhos” da Editora Abril. Os quadrinhos antigamente eram publicados em tamanho 13x21cm, quase um A5 e a qualidade era parecida com a de um papel jornal. Naquela época você economizava o dinheiro do lanche na escola para comprar quadrinho (ou gibi), geralmente em uma banca que ficava perto do colégio, ou perto de casa, afinal havia abundância de bancas…ah, e quem não conheceu algum ’Seu Zé’ que geralmente era o dono de sua banca de preferência?
Felizmente eu tenho todas estas lembranças, que até hoje alimentam minha nostalgia…afinal, quem é colecionador, geralmente o é, porque sua coleção o remete aos bons tempos de criança.
Lembro que com 8, 10 anos cheguei a ter mais de mil gibis na minha coleção…eu lia, os organizava por super-herói e ainda numerava…por isso sabia que tinha mais de mil. No começo da minha adolescência tive que me desfazer de boa parte da minha coleção, pois minha família mudou de uma casa para um apartamento e não havia espaço para tanto gibi.
Se eu soubesse que no início dos anos 2000 a editora Abril deixaria de publicar quadrinhos e a nova editora, a Panini iria adotar de vez o ‘formato americano’ ou comic book de 17x26cm. Eu jamais teria vendido minha coleção de formatinhos, pois hoje eles são raríssimos de encontrar, até por alguns já terem mais de quarenta anos.
Mas c’est la vie…o quadrinho em formato americano se consolidou de vez e a editora Panini também, tornando-se a editora que mais detém direitos de publicação no Brasil, inclusive das maiores casas dos super heróis, Marvel e DC Comics.

Apesar de uma certa crise no começo dos anos 2000, o mercado de quadrinhos nunca deixou de ter força e a chegada dos super heróis aos cinemas fez o número de leitores de quadrinhos crescer ainda mais no mundo todo…mas vamos nos ater ao Brasil.
A ERA DOS QUADRINHOS DE LUXO

Nos últimos anos a indústria dos quadrinhos vem mudando, as famosas Graphic Novels que foram criadas no fim dos anos 80, com o lançamento de obras que se tornaram clássicos como Watchmen de Alan Moore e Batman: O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, cresceram absurdamente de produção. Por serem histórias fechadas e geralmente descoladas da linha do tempo normal ou cânone dos personagens, isso atrai cada vez mais autores e quadrinistas que gostam de desenvolver histórias onde eles possam ter mais liberdade criativa. O “envelhecimento” do público leitor de quadrinhos também é uma explicação, afinal, o garoto (como eu…que amava os Beatles e os Rolling Stones…ops, isso é outra coisa…hehehe) que comprava gibi nos anos 80, hoje é um nerd quarentão (sim, este também sou eu) e parte da indústria de quadrinhos se focou neste público. Começaram aí a produção cada vez maior de edições em capa dura, com papel couchê de qualidade, mas de preço elevado também.
Assim como o mundo todo mudou e teve que se adaptar nestes dois últimos anos com a pandemia de Covid-19, a indústria dos quadrinhos e a de entretenimento em geral, teve que se reinventar para sobreviver. Se hoje em dia grande parte dos filmes são lançados diretamente nas plataformas de streaming em detrimento do cinema, os quadrinhos cada vez mais passaram a ser impressos em formato de luxo, com arcos ou histórias fechadas. Os insumos para produção de quadrinhos aumentaram absurdamente, como todo o custo de vida em nosso país, então uma revista mensal que custava antes R$ 15,00, vinte reais, hoje em dia custa o dobro ou mais.
A grande maioria das bancas de revistas fechou, hoje poucas livrarias ou comic shops sobrevivem, quase todas as editoras, principalmente a Panini, tem em seu e-commerce o seu maior canal de distribuição, o que inviabilizou a maioria das bancas de bairro. Se antes era possível comprar 6, 7 edições de quadrinhos mensais, hoje é praticamente impossível.

Mas isso quer dizer que os quadrinhos vão acabar? A curto prazo não…porém com certeza eles se tornarão cada mais artigos de luxo para colecionador…mas porque afirmo isso? Desde o ano passado a Panini começou a lançar no Brasil o formato Omnibus, que são edições com mais de mil páginas que contemplam fases completas de um herói, ou de um quadrinista à frente de um determinado herói.

Assim como seu formato é um absurdo de grande, o preço dos Omnibus também é…variando entre R$ 350,00 a R$ 500,00 por edição, dependendo do número de páginas. Porém, os Omnibus vendem como água e esgotam suas tiragens em pouco tempo…mas como explicar isso? Lembram que eu falei da nostalgia lá no começo da coluna? Pois é…Omnibus são produtos de nicho, para colecionadores na sua maioria saudosistas, que antes tinham estas edições em formatinhos publicados pela Editora Abril e que agora podem recompor sua coleção com edições completas em formato grande, com papel de qualidade.

Devo confessar que entre colecionar revistas mensais, ou poder ter novamente histórias que eu lia quando era criança e que ajudaram a me formar como colecionador até os dias de hoje, eu prefiro ficar com as histórias antigas e poder de certo modo, refazer minha antiga coleção, só que agora em formato super luxo.
Hoje em dia eu dou preferência por histórias fechadas como as publicadas no selo DC Black Label, ou encadernados com fases completas, do que acompanhar as revistas mensais dos personagens, que anualmente trocam de equipe criativa e praticamente sofrem um soft reboot. Fica mais caro? De certo modo sim, só que se antes eu comprava 10 revistas mensais, hoje em dia compro duas ou três edições encadernadas de luxo. É uma forma de ter mais foco na coleção, economizar espaço e balancear os valores gastos.Em recente live no YouTube, o editor chefe da editora Panini deu a entender que realmente eles focarão cada vez mais em publicações de luxo, devido ao custo benefício…isso gerou uma onda de reclamação entre os leitores, principalmente os que acompanham as revistas mensais. Uma solução apresentada seria a da migração dos quadrinhos para formatos digitais mais acessíveis com arquivos para serem lidos em tablets, celulares ou kindle. Acredito que esta é uma ótima solução para que grande parte do público não deixe de ter acesso aos quadrinhos e também uma ótima oportunidade para que crianças comecem a ler quadrinhos, já que a grande maioria já nasce sabendo mexer nos gadgets eletrônicos.

Eu acredito que democratizar a forma de acesso ao quadrinhos é a melhor solução, dando oportunidade para que mais pessoas possam conhecer e acompanhar a chamada ‘nona arte’.
É isso aí, meus amigos…para um velho nerd como eu, nada melhor que um quadrinho impresso, é gratificante ter a experiência de abrir o plástico de um gibizinho novo e sentir aquele cheiro de tinta. Deixei para trás a voracidade da juventude de querer consumir todo e qualquer gibi que me aparecesse pela frente e hoje opto por ser mais seletivo e me concentrar nos personagens e arcos que mais me interessam. Espero de coração que os quadrinhos se perpetuem infinitamente e que meus futuros filhos e netos tenham também a oportunidade de acompanhar os heróis que tanto amo. Obrigado a quem nos acompanhou até aqui e nos vemos semana que vem, com mais um Terra 92! Para o alto e avante! Stay safe.
