Com a iminência das eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores vociferam a todo momento uma suposta necessidade de que esta seja realizada com votos impressos. Mas qual a problemática atual sobre essa utilização? Começamos dizendo que para as eleições de 2022, ela é improvável. Ou até mesmo impossível.
Desenvolver um sistema seguro de votação impressa requer, antes de tudo, planejamento, tempo, capacitação (principalmente dos mais de 2 milhões de mesários que trabalham nas eleições) e muitos testes. Faltando pouco mais de 1 ano para as próximas eleições, simplesmente não há tempo hábil para realizar todos esses processos de forma segura.
Primeiro que não há planejamento de como a segurança do equipamento responsável pela impressão será desenvolvida. Utilizar impressoras externas nesse processo irá requerer uma série de mecanismos para que hackers ou fraudadores não consigam burlar o sistema de forma alguma. Hoje, não temos esse sistema desenvolvido.
A atual urna possui, de fato, uma impressora embutida, porém ela é de baixa capacidade, sendo utilizada apenas para imprimir os documentos gerados nos dias das eleições que comprovam que estão zeradas e, ao final do dia, o número de votos totais da urna. Desenvolver e adquirir um novo modelo de urna, ou utilizar impressoras externas demandariam bastante tempo, e dinheiro.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, contra-ataca as manifestações que repudiam as urnas eletrônicas atuais e que acabam por duvidarem do nosso sistema eleitoral como um todo, sendo uma forma direta de ataque às nossas instituições. Nas defesas que faz, o ministro sempre afirma que o sistema de votação brasileiro possui as urnas mais seguras do mundo, sem histórico algum de fraude desde o início de sua utilização em 1996. Essas urnas, inclusive, servem de modelo para outros países.
A utilização do voto impresso como complemento até poderia surtir seu efeito pretendido, mas somente se feita com segurança, planejamento e dentro de tempo hábil, não sendo o caso para as próximas eleições. Caso esse processo seja feito de forma apressada, isso poderá prejudicar bastante a lisura do processo eleitoral e a segurança do sistema de votação.
Lembremos que é necessário que, caso um dia o sistema venha a ser utilizado, deve ser mantido o sigilo do voto, ou seja, que a pessoa que tiver votando apenas confira o voto no papel e armazene em local lacrado, não ficando em posse do comprovante. Na prática, o sistema serviria apenas como um complemento que ajudaria na conferência dos votos efetivamente computados nas urnas.
A discussão não é recente, porém não há atualmente um cenário fértil para a implementação desse novo sistema, principalmente pela questão política que isso carrega e pela falta de tempo hábil. Vejamos no futuro como a discussão irá se desenrolar, mas falar de voto impresso em 2022 é pura e simplesmente a manifestação de uma vontade que está sempre presente nas falas e atitudes do Presidente da República: a de tumultuar.
