O Comando do Exército na Amazônia e o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foram informados formalmente sobre a iminência de esgotamento de oxigênio em Manaus, cinco dias antes da crise que ocorreu em janeiro de 2021. Segundo informações publicadas na Folha de S. Paulo, no último dia 8 de junho, as evidências constam no inquérito sigiloso da Polícia Federal (PF) que investiga supostos crimes do ex-ministro.
Ofícios com alertas e pedidos de ajuda detalhados assinados pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), foram enviados à Pazuello e ao comandante militar da Amazônia, general Theophilo Oliveira. Entre os ofícios, um foi enviado à Pazuello no dia 9 de janeiro e aponta a necessidade de oxigênio devido o quadro crítico com elevado número de pessoas positivas para Covid-19 e internações.
O documento destaca um “súbito aumento no consumo” do insumo e alerta para o risco de esgotamento e a necessidade de resguardar a vida dos pacientes no Amazonas”. O ofício também destacava que a empresa responsável pelo fornecimento de oxigênio em Manaus, a White Martins, teria 500 cilindros de oxigênio em Guarulhos (SP), prontos para o transporte aéreo no dia 10 de janeiro. Segundo a reportagem, Wilson Lima enviou o mesmo ofício ao comandante militar da Amazônia pedindo ajuda para o transporte de 36 tanques de oxigênio, em “caráter de urgência”, que também estariam disponíveis em Guarulhos.
À Folha, a empresa White Martins informou que nas primeiras horas do dia 14 de janeiro, cinco dias após o envio do ofícios, o insumo foi esgotado no Estado e pacientes morreram asfixiados nos hospitais. E informou também que o Ministério da Saúde ajudou a transportar 200 cilindros de oxigênio a partir da cidade de Vinhedo (SP), em 12 de janeiro e 150 cilindros de Belo Horizonte (MG) e em 13 de janeiro, a partir de Guarulhos (SP).
Segundo apuração da reportagem, no dia 9 de janeiro, 23 tanques criogênicos móveis de oxigênio líquido já estavam disponíveis para serem transportados pela Força Aérea Brasileira com destino à Manaus. Porém os seis primeiros tanques chegaram na capital amazonense, somente no dia 13 de janeiro. E que não há registro e documentos do Ministério da Saúde enviados ao STF e nem pelas Forças Armadas sobre o transporte dos oxigênios disponíveis em Guarulhos antes do colapso.
A White Martins disse à Folha que houve o transporte de cilindros de oxigênio de Belém a Manaus em avião da FAB, sendo 150 no dia 9 e 200 no dia 10 – Insumos que foram pedidos em ofício, assinados pelo secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêllo, e enviados ao Comando Militar da Amazônia.
Ao entrar em contato, o Ministério da Saúde enviou em nota à Folha que o envio foi escalonado entre os dias 8 e 30 de janeiro, totalizando 5.00 cilindros de oxigênio. E que tanques de oxigênio líquido foram encaminhados conforme meio de transporte mais seguro para o deslocamento.
Ofícios
Segundo à Folha, Wilson Lima enviou ofícios no dia 10 de janeiro pedido ajuda e fazendo alerta sobre a iminência de esgotamento do insumo aos governadores do Acre, Roraima, Maranhão, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal. E no dia 12 de janeiro, dois dias antes do colapso, enviou novamente ofício ao então ministro da Saúde, Pazuello, informando que a necessidade do consumo de oxigênio tinha aumento três vezes ao número inicial e pediu que fossem enviados microusinas e geradores de oxigênio à Manaus. Porém, o pedido não foi atendido.
A White Martins também enviou e-mail no dia 11 de janeiro, pedindo apoio “logístico imediato” de coronéis do Exército com atuação no Ministério da Saúde para o transporte de 350 cilindros de oxigênio gasoso, 28 tanques de oxigênio líquido, 7 isotanques e 11 carretas.
CPI da Covid
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o governador Wilson Lima foram convocados para depor na CPI da Covid para além de outros questionamentos à Pazuello, para responder sobre a crise de oxigênio em Manaus.
Nos dias 19 e 20 de maio, o depoimento de Pazuello foi marcado por controvérsias na CPI. Em relação à crise de oxigênio, o ex-ministro da Saúde negou culpa, afirmou que a White Martins não prestou informações claras e Secretária de Saúde do Amazonas (SES-AM) não realizou a fiscalização do nível de estoque do insumo. Segundo ele, o governo Federal não teve responsabilidade no episódio, mas sim a Secretária de Saúde.
“A empresa White Martins já vinha consumindo sua reserva estratégica e não fez essa posição de forma clara. E a Secretária de Saúde que não fez o acompanhamento. Se tivesse acompanhando, teria descoberto que estava sendo consumida a reserva estratégica. A responsabilidade quanto a isso é clara: é da Secretaria de Saúde do Amazonas. Da nossa parte, fomos muito proativos”
Ao ser pressionado, ex-ministro da Saúde afirmou que a iminência da falta do insumo foi debatida com o presidente Jair Bolsonaro (PSC), com Wilson Lima e um grupo de ministros. Pazuello disse que a decisão de uma possível intervenção não era de sua competência, mas sim do governador do Amazonas, Wilson Lima, que afirmou que o Estado tinha condição de continuar frente as medidas.
Convocado para depor nesta quinta-feira (10), o governador Wilson Lima não compareceu à CPI, amparado por habeas corpus da ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal (STF). Já o secretário de Saúde, Marcellus Campêllo, continua com o depoimento marcado para o dia 15 de junho na CPI.