Este texto é a segunda parte de um artigo que pode ser lido bem aqui. Veja, a compreensão do que será dito não depende da primeira parte, mas é recomendável ter o contexto. Ainda que eu tenha todos os poderes e a influência de um colunista, não seria muito legal da minha parte dizer o que você deve ou não fazer. Mas eu realmente preferiria que você lesse a primeira parte.
Como já disse anteriormente, novembro de 2020 foi um momento de drásticas mudanças para os videogames, mas você estaria perdoada caso não tivesse notado. Pois as mudanças, ainda sendo drásticas, não foram evidentes.
A expressão “salto geracional” carrega uma grande expectativa. Quando a geração de consoles mudou do Super Nintendo para o Nintendo 64, os gráficos em 3D deixaram de ser a exceção e passaram a ser regra.
Assim como quando o Playstation 2 estreou o uso de DVDs como forma de mídia, possibilitando que os jogos não só fossem belos, mas robustos quanto ao conteúdo. E tal revolução se repetiu quando o Playtation 3 veio ao mercado com seu leitor de Blu-ray.
Porém, quando o Playstation 5 e a família xbox Series foram lançados, alguém poderia julgá-los como meras continuações de seus antecessores, os quais chegaram no mercado no longínquo ano de 2013.
Com poucos jogos dedicados unicamente às novas máquinas no lançamento (mais precisamente nenhum, no caso do xbox) e com apresentações visuais as quais, ainda que belas, não fugiam do que era possível em máquinas com quase uma década de distância, a nova geração pode aparentar – em um primeiro momento – não ter muita coisa que a faça ser tão “nova” assim.
Porém, felizmente, essa é uma impressão que não condiz com a realidade. A (agora) atual geração traz inovações sem precedentes para a indústria, as quais elevam, por si só, o padrão de qualidade de se jogar videogame.

UMA NOVA FORMA DE JOGAR
Pela primeira vez, os consoles estão rápidos. Você sabe aquelas informações curiosas, no estilo de “veja quanto tempo passamos no trânsito” ou algo assim? Pois bem, com videogames, também enfrentávamos uma excessiva espera.
As vezes pode ser em razão da mudança de uma fase ou de um cenário para outro, outras vezes pode se dar pela transição entre menus e opções ou então para recarregar um ponto de controle que salvou seu progresso. Independentemente do motivo, o ato de ter de parar de jogar para esperar um tempo considerável costumava fazer parte dos jogos como um todo.
Porém, pela combinação de processadores realmente fortes e SSDs – os quais são versões rápidas dos HDs que usamos para salvar arquivos –, tempos de carregamento foram drasticamente reduzidos ou, no caso do Playstation 5, praticamente apagados. E essa aparentemente pequena evolução tem um impacto considerável.
Não só é uma melhoria transformativa para alguns jogos que antes teriam seu ritmo afetado negativamente, como também possibilita que desenvolvedoras consigam confeccionar experiências com tal poderio em mente, como o jogo The Medium, o qual carrega duas realidades ao mesmo tempo, ou Ratchet & Clank: Rift Apart, cuja principal mecânica, saltar entre dimensões, necessita de um carregamento rápido para funcionar.
E Junto com um carregamento mais eficiente, temos também uma performance melhor. Como você é uma pessoa maneira e leu a primeira parte deste texto, já sabe que um dos pontos mais fracos, mesmo no lançamento, da geração do Playstation 4 e Xbox One era o processador. Em razão dele, o desempenho dos jogos não alcançava a fluidez ideal, sendo normalmente limitado aos 30 FPS, em vez dos 60 FPS, considerados a quantia ideal.
Todavia, com a nova geração, essa falha foi devidamente sanada. Devido, principalmente, a processadores consideravelmente poderosos, o desempenho dos jogos nos consoles atuais está mais fluído e responsivo. Pela primeira vez em um bom tempo, 60 FPS passaram a ser a regra e não a exceção.
É um pouco complicado expressar com palavras uma sensação que é tão tátil. Uma performance ideal se traduz em um tempo de resposta melhor, um controle da situação melhor e animações mais belas. Em certas situações, alguns jogos que tinham tudo para ser bons, mas eram limitados por um fraco desempenho, têm finalmente sua chance de brilhar.
A própria forma de ter acesso aos jogos sofreu uma mudança considerável e o maior responsável por isso é o serviço Game Pass, da Xbox. Por meio de uma assinatura mensal ou um pagamento anual, uma jogadora pode ter acesso a uma extensa biblioteca de jogos, fazendo com que o serviço recebesse o carinhoso apelido de “Netflix para jogos”.
O resultado da iniciativa da Microsoft foi sem precedentes, alcançando 18 milhões de assinaturas em 2021.
Visto que o preço de jogos (principalmente no Brasil) torna a noção de ter um acervo para jogar algo financeiramente proibitivo para muitas pessoas, o Game Pass ofereceu oportunidades tanto para jogadores serem capazes de experimentar um maior número e uma maior diversidade de obras, como também para desenvolvedoras – principalmente as independentes – terem uma chance de alcançar um público extenso e que, em um cenário de compra e venda ortodoxo, não compraria seu jogo.
Tamanho foi o impacto do serviço que a Sony lançou, junto com o Playstation 5, a “Ps Plus Collection”. O projeto é uma resposta mais modesta ao Game Pass, o qual consiste em uma pequena seleção de jogos a qual – até a data do presente texto – não aumentou seu acervo desde ser criada.
Porém, uma das mais valiosas vantagens da atual geração está na sua relação com o que veio antes.

O PASSADO INTERPRETADO PELO FUTURO
Um dos maiores problemas da indústria dos videogames como um todo – a dificuldade ou impossibilidade de se jogar obras antigas – recebeu uma extensa resposta nos novos consoles. Pela primeira vez, não só a totalidade de uma geração anterior é jogável (com raras exceções), como também, no caso do xbox, jogos ainda mais antigos também são acessíveis.
Seja por meio de mídia física ou digital, os jogos de Playstation 4 e xbox one podem, respectivamente, ser jogados no Playstation 5 e na família Xbox Series. Com isso, além de termos um desempenho e qualidade visual melhor, temos a certeza de que nossos jogos não ficarão ultrapassados e poderão nos acompanhar em futuros consoles.
No particular caso do Xbox, a retrocompatibilidade – a capacidade de um console rodar jogos mais antigos – vai ainda mais longe. Determinados jogos do primeiro Xbox e de seu sucessor, o Xbox 360, rodam nas máquinas da família Series com performance e visuais inimagináveis para a época de seus lançamentos.
Além de ser uma grande vitória para a preservação, é uma garantia que obras possam ser apreciadas de maneira acessível, sendo instalandas como qualquer outro jogo.
Essa maravilhosa função, junto com as outras citadas, faz dessa a geração que está focada tanto em “no que iremos jogar” como também em “como iremos jogar”.
O potencial dos videogames surpreende a cada dia, porém, pela primeira vez em muito tempo, eles estão devidamente conectados com sua história e de braços abertos para o futuro.
Ou seja, resumindo esse e o último artigo:
Videogame estão bem bacanas agora.
