Seja bem-vindo à Terra 92, o multiverso Geek! Aqui falaremos semanalmente sobre tudo o que está acontecendo de relevante no mundo nerd/geek: filmes, séries, quadrinhos e tudo o que estiver relacionado ao universo, ou melhor, ao multiverso da cultura pop.
E o que seria da cultura pop sem os fãs? Os fãs movimentam a indústria do entretenimento e é o amor que movimenta os fãs. O amor por bruxos, seres medievais, naves espaciais, homens que voam, viagens no tempo, alienígenas, sabres de luz, a essência da cultura pop é o amor que os fãs nutrem e dedicam às mais diversas franquias e personagens deste multiverso maravilhoso.
Com a disponibilização cada vez maior de conteúdo nas mais diversas mídias e a acirrada guerra que se tornou os serviços de streaming, os estúdios e empresas que produzem conteúdo têm que dar ouvidos aos fãs, que todos os dias estão se manifestando e gerando engajamento nas redes sociais.
Um bom exemplo disso foi o lançamento da Liga da Justiça de Zack Snyder, que ocorreu no último dia 18 de março no HBO Max nos Estados Unidos e nos mais diversos serviços de VOD (Video on Demand) no mundo todo. A produção do filme que reuniria pela primeira vez os maiores heróis da DC Comics, Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash e Ciborgue, foi cercada de problemas e interferências do estúdio, culminando na saída do seu diretor e idealizador, Zack Snyder, após o suicídio da sua filha Autumn em março de 2017. Para substituir Snyder o estúdio chamou Joss Whedon, renomado diretor que dentre outras coisas, tinha dirigido Os Vingadores, primeiro grande filme de uma super equipe, para a rival Marvel Studios. Acontece que Joss resolveu refilmar praticamente o filme todo, que já tinha seu primeiro corte pronto feito pelo seu antecessor, Zack Snyder. A versão de Joss, que acabou chegando aos cinemas no final de 2017, era uma versão mais leve, colorida, com um acabamento em computação gráfica bem duvidoso, de apenas 2 horas de duração e que acabou se tornando um fracasso de bilheteria, devido à mudança súbita de tom e uma edição que mais parecia um corte de retalhos, apressado e sem sentido.
Após viver o luto pela sua filha, Zack começou a postar em uma então desconhecida rede social, a VERO, fotos da produção original de Liga da Justiça. Fotos estas que rapidamente viralizaram e fizeram os fãs perceberem que todo aquele material não foi ao cinema. Começou então o movimento Release The Snydercut (algo como Liberem a Versão do Snyder) com uma hashtag no twitter. Este movimento foi crescendo e transcendeu do mundo virtual para o mundo real nos anos seguintes, a hashtag #ReleaseTheSnydercut começou a aparecer em diversas convenções de cultura pop nos Estados Unidos, através de outdoors, camisas e até um avião sobrevoou o pavilhão principal da San Diego Comic Con com uma faixa #ReleaseTheSnydercut. Mas este não era um simples movimento criado por fãs para a liberação de um corte de diretor para a Liga da Justiça, os fãs abraçaram a causa da prevenção ao suicídio, chegando a arrecadar 500 mil dólares para a ASFP (Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio) em memória de Autumn, filha de Zack.
Também nos anos seguintes, vários problemas nos bastidores das regravações de Liga da Justiça pelo diretor Joss Whedom foram reveladas, acusações de racismo foram feitas contra o diretor pelo ator que interpreta o Ciborgue no filme, Ray Fisher, assim como de assédio moral do diretor contra a atriz Gal Gadot, que faz a Mulher-Maravilha. Tudo isso foi fazendo o movimento crescer, até os próprios atores do filme aderiram à campanha, Gal Gadot, Ben Affleck (que faz o Batman) publicaram em suas redes sociais a hashtag, fazendo-a chegar ao trend topic mundial com mais de 750 mil tweets.
Poster de divulgação/ Zack Snyder. Crédito das imagens: Divulgação HBO Max, zint.online
Em Maio do ano passado, em uma live na Vero, onde estava participando também o ator Henry Cavill (o Superman do Universo DC nos cinemas), Zack Snyder surpreendeu os fãs ao anunciar que sim, o Snydercut seria lançado através do HBO Max. E finalmente em março deste ano a versão de Zack Snyder da Liga da Justiça foi lançada. Com 4 horas de duração, a versão do diretor é completamente diferente da que foi apresentada nos cinemas, o filme é um épico que faz jus aos personagens icônicos da DC Comics e também é um verdadeiro presente à toda mobilização dos fãs. Zack não aceitou nenhum pagamento adicional pelo seu trabalho e conseguiu 70 milhões de dólares do estúdio para finalizar os efeitos especiais, fazer a trilha sonora e algumas tomadas extras. Ele dedicou o filme à sua filha Autumn.
No fim de semana do lançamento do filme, o sucesso foi tão grande que chegou a derrubar os servidores do HBO Max nos Estados Unidos e de alguns serviços de VOD pelo mundo que disponibilizaram o filme através de aluguel, como foi o caso do Google Play, NOW entre outros aqui no Brasil. Nas semana seguinte ao lançamento do filme mais uma hashtag foi levantada no twitter, a #RestoreTheSnyderverse (Restaurem o Universo do Snyder) conseguiu mais de 1 milhão e meio de tweets em menos de 24 horas, quebrando recordes no mundo todo.
Nem a Warner, nem a HBO Max se pronunciaram ainda sobre o futuro ou o fim do Snyderverso, mas o novo filme do Batman com Robert Pattinson, dirigido por Matt Reeves, foi anunciado como pertencente à Terra 2 (ou seja, um universo paralelo, diferente do universo onde se passam os filmes de Zack Snyder) e veremos em breve o filme do Flash tratar justamente sobre o tema dos múltiplos universos, ou multiversos no cinema, com participações de Ben Affleck e Michael Keaton como Batmen.
Fato é que o lançamento da Liga da Justiça de Zack Snyder é algo sem precedentes na história da indústria do entretenimento, é uma vitória dos fãs, do seu amor e dedicação à uma causa, aos seus personagens e universos mais queridos. Como o engajamento dos fãs vai ditar o futuro da produção de conteúdo nos cinemas e streamings, só o tempo irá dizer, mas o caminho foi trilhado e a justiça foi servida.
Por: Patrick Okada
