Na mesma semana em que o policial Derek Chauvin foi condenado pela morte de George Floyd e o crescimento de movimentos como o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), Stop Asian Hate (Pare o Ódio Contra Asiáticos), as seguidas condenações dos supremacistas brancos que invadiram o Capitólio nos Estados Unidos, a Marvel em sua série Falcão e o Soldado Invernal nos entrega um novo Capitão América, sem super poderes, e apresenta o primeiro trailer de Shang-Chi e a Lenda dos Dez anéis, filme que estreia anda este ano e trará o primeiro protagonista asiático como herói.
Como muitos devem lembrar, ao final de Vingadores: Ultimato (filme de 2019, que encerrou a primeira saga da Marvel nos cinemas), Steve Rogers (o Capitão América, interpretado por Chris Evans) já velhinho, entrega seu escudo para o seu amigo Sam Wilson, o Falcão, na esperança de que ele continuasse seu legado.
Agora na série da Disney Plus, o Falcão e o Soldado Invernal, vemos Sam entregar o escudo para o governo dos Estados Unidos por achar que ninguém mais além de Steve merecia empunhá-lo. O que Sam não sabia é que o governo já tinha planos para o escudo e o entrega para o “novo” Capitão América, John Walker, um soldado condecorado que carrega consigo muitos traumas e questões morais dos tempos de serviço no Afeganistão, mas que aceita ser o garoto-propaganda do governo dos Estados Unidos.
O que vemos na série é a jornada do herói de Sam Wilson, juntamente com Bucky Barnes, o Soldado Invernal, uma jornada de auto aceitação e redenção para ambos. Mas a série também trata de vários assuntos que transcendem o mundo da fantasia, mas que são brilhantemente inseridas dentro do contexto do universo Marvel: a questão dos refugiados, traumas de guerra, supremacismo, manipulação pelo governo e é claro, o preconceito.
Sam apesar de não concordar com a existência de um “novo” Capitão América ( John Walker que em uma cena brutal mancha a reputação e o símbolo do Capitão América), refuta a ideia dele mesmo assumir o escudo do Capitão, muito por receio do preconceito, receio este que é simbolizado pelo personagem de Isaiah Bradley, que é contemporâneo de Steve Rogers na segunda grande guerra e que também tomou o soro do Super Soldado, mas ao contrário de Steve, não foi alçado ao posto de símbolo da nação e, apesar de também ser um herói de guerra, tudo o que ganhou foram anos dentro de uma prisão, servindo de cobaia de laboratório, justamente pela cor da sua pele. Em uma das cenas mais impactantes da série, Isaiah conta para Sam tudo o que sofreu como cobaia do governo e diz que “eles nunca aceitarão um Capitão América negro”.
A superação do receio do preconceito também é parte da construção de Sam Wilson até ele definitivamente empunhar o escudo e assumir o posto de Capitão América, um Capitão América diferente, sem o soro do Super Soldado, mas com a envergadura moral à altura do legado do símbolo que ele carrega, assim como fez Steve Rogers. A série é belíssima e se você conseguir ler as entrelinhas verá a riqueza de questionamentos que assolam o nosso mundo atualmente. Todos os episódios de Falcão e o Soldado Invernal já estão disponíveis na Disney Plus, vale muito a pena conferir.
Esta semana a Marvel também surpreendeu os fãs ao lançar o primeiro trailer de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis. Shang-Chi nos quadrinhos é conhecido como Mestre do Kung-fu e foi claramente inspirado no ator Bruce Lee, a versão que chegará em setembro deste ano aos cinemas e na Disney Plus é bem diferente dos quadrinhos, com toda uma nova mitologia em torno do personagem. Shang-Chi também marca a estreia do primeiro protagonista asiático no universo cinematográfico da Marvel, o que vem bem a calhar devido aos crescentes episódios de crimes de ódio à comunidade Asiática, principalmente nos Estados Unidos, com ataques à idosos na rua.
Os agressores “culpam” os asiáticos pela pandemia, e para combater e chamar a atenção de todo o mundo, surgiu o movimento Stop Asian Hate, encabeçado por diversos atores Asiáticos-Americanos, inclusive Simu Liu, que interpreta Shag-Chi e Olivia Munn que já interpretou a Psylocke, em um filme dos X-Men da Fox.
Vale a pena lembrar que a Marvel ainda está produzindo a série de Kamala Khan, a Miss Marvel, uma adolescente mulçumana, que é fã da Capitã Marvel, se inspira muito nela e em suas proezas e resolve homenageá-la ao ganhar seus super poderes.
Falando em inspiração…é para isso que os heróis servem. Mais do que entretenimento, ou um escape da realidade, os heróis servem para nos inspirar. Devemos prestar um pouquinho mais de atenção nas suas histórias, em seus feitos, ler as entrelinhas, como dito anteriormente, e tirarmos lições. Lições estas que podem falar de altruísmo, justiça, sacrifício, amor, abnegação, responsabilidade e tolerância…justamente o que nós, seres humanos de verdade, mais precisamos nestes tempos tão difíceis.
Ver o quão inclusivo e representativo o universo da Marvel nos cinemas e nas séries está se tornando, acende uma chama de esperança de que mais pessoas possam se “reconhecer” nas telas, se inspirar em seus heróis favoritos e assim como eles, derrotar vilões tão poderosos e nocivos como o preconceito e a intolerância.
Leitura muito agradável
Narrativa de fácil compreensão
Adorei